A
nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não
é plenamente verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é
porque o interesse imediato dos que estão no poder se encontra em
contradição com os valores que fundamentam este mesmo poder. É-lhes
necessário, por exemplo, incentivar o consumo que os enriquece, em
detrimento da moral que os legitima. Pela primeira vez, o poder
fundamenta-se na confusão e não na ordem. Daí a mentira
generalizada, de que a língua sofre.
A permissividade
atual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não significa
nada. A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido. A
escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas:
publicidade, jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando
não o são.
O objetivo da
antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo,
privando-o dos seus meios de expressão; a nova - que denominei
sensura - esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais
radical e menos visível.
Bernard Noel,
in O castelo da ceia
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