terça-feira, 5 de junho de 2018

O violino e Vandirene

Já o Jander tinha quatorze anos, a cara cheia de espinhas e como se não bastasse isso, inventou de estudar violino.
- Violino?! - horrorizou-se a família.
- É.
- Mas Jander...
- Olha que eu tenho um ataque.
Sempre que era contrariado, o Jander se atirava no chão e começava a espernear. Compraram um violino para ele.
O Jander dedicou-se ao violino obsessivamente. Ensaiava dia e noite.
Trancava-se no quarto para ensaiar. Mas o som do violino atravessava portas e paredes. O som do violino se espalhava pela vizinhança.
Um dia a porta do quarto do Jander se abriu e entrou uma moça com um copo de leite.
- Quié? - disse o Jander, antipático como sempre.
- Sua mãe disse que é para você tomar este leite. Você quase não jantou.
- Quem é você?
- A nova empregada.
Seu nome era Vandirene. Na quadra de ensaios da escola era conhecida como "Vandeca Furacão".
Ela botou o copo de leite sobre a mesa-de-cabeceira, mas não saiu do quarto.
Disse:
- Bonito, seu violino.
E depois:
- Me mostra como se segura?
Depois a vizinhança suspirou aliviada. Não se ouviu mais o som do violino aquela noite.
O pai de Jander reuniu-se com os vizinhos.
- Parece que deu certo.
- É.
- Não vão esquecer o nosso trato.
- Pode deixar.
No fim do mês todos se cotizariam para pagar o salário da Vandirene. A mãe do Jander não ficou muito contente. Pobre do menino. Tão moço. Mas era a Vandirene ou o violino.
- E outra coisa - argumentou o pai do Jander. - Vai curar as espinhas.
Luís Fernando Veríssimo, in Comédias para se ler na escola

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