domingo, 27 de maio de 2018

Zamora

Zamora, El Divino

Começou na primeira divisão aos dezesseis anos, quando ainda vestia calças curtas. Para entrar no campo do Espanhol, em Barcelona, vestiu um jersey inglês de colarinho alto, luvas e um gorro duro como um capacete, para protegê-lo do sol e das patadas. Era o ano de 1917 e as cargas eram de cavalaria. Ricardo Zamora tinha escolhido um ofício de alto risco. O único que corria mais perigo que o goleiro era o árbitro, naquela época chamado o Nazareno, que estava exposto às vinganças do público em campos que não tinham fosso nem alambrado. Em cada gol a partida era interrompida longamente, porque as pessoas entravam em campo para abraçar ou bater.
Com a mesma roupa daquela primeira vez, ficou famosa, ao longo do tempo, a estampa de Zamora. Ele era o pânico dos atacantes. Se olhavam para ele, estavam perdidos: com Zamora no gol, o arco encolhia e as traves se afastavam até perder-se de vista.
Era chamado de Divino. Durante vinte anos, foi o melhor goleiro do mundo. Gostava de conhaque e fumava três maços de cigarros por dia, além de um ou outro charuto.
Eduardo Galeano, in Futebol ao sol e à sombra

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