segunda-feira, 21 de maio de 2018

Os negros

Isabelino Gradín

Em 1916, no primeiro campeonato sul-americano, o Uruguai goleou o Chile por 4 a 0. No dia seguinte, a delegação chilena exigiu a anulação da partida, “porque o Uruguai escalou dois africanos”. Eram os jogadores Isabelino Gradín e Juan Delgado. Gradín havia feito dois dos quatro gols.
Bisneto de escravos, Gradín tinha nascido em Montevidéu. As pessoas se levantavam quando ele se lançava numa velocidade espantosa, dominando a pelota como quem caminha, e sem se deter evitava os adversários e arrematava na corrida. Tinha cara de santo e quando fazia cara de mau, ninguém acreditava.
Juan Delgado, também bisneto de escravos, havia nascido em Florida, no interior do Uruguai. Delgado brilhava dançando nos carnavais e fazendo a bola dançar nos gramados. Enquanto jogava, conversava, e gozava os adversários.
Larga esse cacho – dizia, levantando a bola. E lançando-a dizia:
Sai fora, que lá vai areia.
O Uruguai era, naquela época, o único país do mundo que tinha jogadores negros na seleção nacional.
Eduardo Galeano, in Futebol ao sol e à sombra

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