Criança
desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não
te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te
graça por nunca te ter visto antes,
E
naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem
aqui vinhas.
Brinca
na poeira, brinca!
Aprecio
a tua presença só com os olhos.
Vale
mais a pena ver uma coisa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque
conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E
nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.
O
modo como esta criança está suja é diferente do modo como as
outras estão sujas. Brinca! Pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes
que te cabe na mão.
Qual
é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma,
e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.
Alberto
Caeiro, (heterônimo de Fernando Pessoa)
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