Os
senhores podem julgar que estou indo longe demais ao dizer que isso
ainda acontece. Não acho que seja o caso. Tomemos como exemplo um
fato. Os senhores hão de concordar comigo quando eu citá-lo. Não é
um fato agradável, mas as igrejas nos compelem a mencionar fatos que
não são agradáveis. Suponhamos que neste mundo onde vivemos hoje
uma moça sem experiência esteja casada com um homem sifilítico;
nesse caso, a Igreja Católica diz: “Este é um sacramento
indissolúvel. Vocês dois devem ficar juntos a vida toda”. E essa
mulher não deve tomar nenhuma iniciativa para evitar que tenha
filhos sifilíticos. É isso o que a Igreja Católica diz. Eu digo
que isso é uma crueldade demoníaca, e ninguém cujas inclinações
naturais não tenham sido infectadas pelo dogma, ou cuja natureza
moral não esteja absolutamente morta no que diz respeito a toda a
noção de sentimento, poderia defender que é certo e correto esse
estado de coisas continuar.
Esse
é apenas um exemplo. Existem muitíssimas maneiras por meio das
quais, no momento atual, a Igreja, com sua insistência quanto ao que
decide classificar como moralidade, inflige sofrimento desmerecido e
desnecessário a todo tipo de gente. E é claro, como sabemos, ela
continua sendo na maior parte oposta ao progresso e às melhorias
relativas a todas as maneiras de fazer diminuir o sofrimento no
mundo, porque escolheu classificar como moralidade um certo conjunto
restrito de regras de conduta que nada têm a ver com a felicidade
humana. E quando se diz que isto ou aquilo deve ser feito porque
contribuiria para a felicidade humana, afirmam eles que a questão
nada tem a ver, absolutamente, com o problema. “O que a felicidade
humana tem a ver com a moral? O objetivo da moral não é tornar as
pessoas felizes.”
Bertrand
Russell, in Por que não sou cristão
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