Num
poema leio:
“conversar
é divino.”
Porém,
os deuses não falam:
Fazem
e desfazem mundos
enquanto
os homens falam.
Os
deuses, sem palavras,
jogam
jogos terríveis.
O
espírito desce
e
desata as línguas,
porém
não fala palavras:
fala
lume. A linguagem,
pelos
deuses acesa,
é
uma profecia
de
chamas e uma torre
de
fumo e um colapso
de
sílabas queimadas:
cinza
sem sentido.
A
palavra do homem
é
filha da morte.
Falamos
porque somos
mortais:
as palavras
não
são signos, são anos.
Ao
dizer o que dizem,
os
nomes que dizemos,
dizem
tempo: dizem-nos.
Somos
nomes do tempo.
Mudos
também os mortos
pronunciam
as palavras
que
nós, os vivos, dizemos.
A
linguagem é a casa
de
todos, a casa suspensa
no
flanco do abismo.
Conversar
é humano.
Octavio
Paz
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