No
banco verde do parque, onde eu lia distraidamente o Almanaque
Bertrand, aquela sentença pegou-me de surpresa: “Colhe o momento
que passa”. Colhi-o, atarantado. Era um não sei que, um flapt, um
inquietante animalzinho, todo asas e todo patas: ardia como uma
brasa, trepidava como um motor, dava uma angustiosa sensação de
véspera de desabamento. Não pude mais. Arremessei-o contra as
pedras, onde foi logo esmigalhado pelo vertiginoso velocípede de um
meninozinho vestido à marinheira. Quem monta num tigre (dizia, à
página seguinte, um provérbio chinês), quem monta num tigre não
pode apear.
Mário
Quintana, in Sapato florido
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