Cessa
o teu canto!
Cessa,
que, enquanto
O
ouvi, ouvia
Uma
outra voz
Como
que vindo
Nos
interstícios
Do
brando encanto
Com
que o teu canto
Vinha
até nós.
Ouvi-te
e ouvi-a
No
mesmo tempo
E
diferentes
Juntas
a cantar.
E
a melodia
Que
não havia,
Se
agora a lembro,
Faz-me
chorar.
Foi
tua voz
Encantamento
Que,
sem querer,
Nesse
momento
Vago
acordou
Um
ser qualquer
Alheio
a nós
Que
nos falou?
Não
sei. Não cantes!
Deixa-me
ouvir
Qual
o silêncio
Que
há a seguir
A
tu cantares!
Ah,
nada, nada!
Só
os pesares
De
ter ouvido,
De
ter querido
Ouvir
para além
Do
que é o sentido
Que
uma voz tem.
Que
anjo, ao ergueres
A
tua voz
Sem
o saberes
Veio
baixar
Sobre
esta terra
Onde
a alma erra
E
com as asas
Soprou
as brasas
De
ignoto lar?
Não
cantes mais!
Quero
o silêncio
Para
dormir
Qualquer
memória
Da
voz ouvida,
Desentendida,
Que
foi perdida
Por
eu a ouvir...
Fernando
Pessoa
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