sexta-feira, 23 de março de 2018

Los Angeles para Li Po

Bem, estando com Li Po, eu o levaria ao Musso & Frank’s e iríamos até o bar esperar que uma mesa vagasse. Pediria por uma mesa no “velho salão”, tendo Jean como garçom, se possível. Não me importo de esperar no bar, exceto nas noites de sábado ou de sexta, quando os turistas vêm em revoada. Eu escolheria um drinque com vodca e Li Po, um bom vinho tinto. Depois de conseguirmos a mesa, pediríamos uma garrafa de Beaujolais e daríamos uma olhada no menu. Eu diria a Li Po que Hemingway, Faulkner e F. Scott costumavam se empedrar no Musso’s e que eu também, geralmente no meio da tarde, pedindo garrafas e mais garrafas ao examinar o menu, para ao cabo de tudo, em boa parte das vezes, não pedir nada.
Depois do Musso’s, iríamos para outro lugar e continuaríamos bebendo, vinho tinto provavelmente, e fumaríamos cigarros indianos. Eu iria falar e ele escutar, e depois eu o escutaria falar. Daríamos boas risadas, e depois a noite chegaria. A não ser que quisesse escrever alguns poemas, queimá-los e lançá-los no LA Harbor.
Em qualquer cidade, bom senso e bom gosto estão menos naquilo que você vê e faz e mais naquilo que você não vê e não faz. O que está fora de nós dificilmente será tão importante quanto o que está dentro, mas, apesar desse privilégio, devemos também viver com as coisas exteriores. Li Po teria consciência disso, e assim, gastar a noite bebendo devagar seria o melhor dos mundos para nós dois. Ah, sim, sim, sim.
Charles Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho

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