“Eu
não sei como não treme a mão a todos os ministros de pena, e muito
mais àqueles que sobre um joelho aos pés do rei recebem os seus
oráculos, e os interpretam, e estendem. Eles são os que com um
advérbio podem limitar ou ampliar as fortunas; eles os que com uma
cifra podem adiantar direitos, e atrasar preferências; eles os que
com uma palavra podem dar ou tirar peso à balança da justiça; eles
os que com uma cláusula equívoca ou menos clara, podem deixar
duvidoso, e em questão, o que havia de ser certo e efetivo; eles os
que com meter ou não meter um papel, podem chegar a introduzir a
quem quiserem, e desviar e excluir a quem não quiserem; eles,
finalmente, os que dão a última forma às resoluções soberanas,
de que depende o ser ou não ser de tudo. Todas as penas, como as
ervas, têm a sua virtude; mas as que estão mais chegadas à fonte
do poder são as que prevalecem sempre a todas as outras. São por
ofício, ou artifício, como as penas da águia, das quais dizem os
naturais, que postas entre as penas das outras aves, a todas comem e
desfazem.”
Padre
Antônio
Vieira, in
Sermões
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