segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Pós-escrito

Em favor da dignidade da pesca de baleias, eu não diria nada além de fatos comprovados. Mas se, depois de apresentar seus fatos, um advogado suprime totalmente as suposições razoáveis, que poderiam beneficiar eloquentemente sua causa – não seria censurável a conduta de tal advogado?
Todos sabem que na coroação de reis e rainhas, mesmo os modernos, se utilizam certos procedimentos curiosos para fazer com que se acostumem às suas funções. Há um saleiro de Estado, por assim dizer, e pode haver um galheteiro de Estado. Como usam o sal exatamente – quem sabe? Mas tenho certeza de que a cabeça do rei é solenemente ungida em sua coroação, tal como se fosse um pé de alface. Será que a untam para que funcione bem por dentro, como fazem com as máquinas? Muito poderia ser pensado sobre a dignidade essencial desse procedimento régio, porque na vida comum consideramos desprezível e ordinário um sujeito que passa óleo no cabelo e fica cheirando a óleo. Na verdade, um homem maduro que usa óleo no cabelo, a não ser que seja por motivos de saúde, provavelmente tem algo de débil em si. Como regra geral, não vale grande coisa.
Mas a única coisa a ser considerada aqui é a seguinte: que tipo de óleo é usado nas coroações? Certamente não é azeite de oliva, nem óleo de Macaçar, nem óleo de castor, nem óleo de urso, nem óleo de trem, nem óleo de fígado de bacalhau. Então o que pode realmente ser, senão óleo de cachalote, sem manufatura, em estado puro, o mais doce de todos os óleos?
Pensai nisso, leais Britânicos! Nós, baleeiros, fornecemos material para a coroação dos vossos reis e rainhas!
Herman Melville, in Moby Dick

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