segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Fazer uma cadeira

Às vezes, digo que fazer um romance é o mesmo que fazer uma cadeira: a cadeira tem que ter quatro pés, tem que estar equilibrada, a pessoa tem que se sentar na cadeira e estar confortável, há uma estrutura e as coisas têm que estar apoiadas umas nas outras para que a cadeira não caia. E, por outro lado, se a cadeira, além de funcionar, de responder à necessidade que se tem, na hora de se sentar, de que ela seja sólida, puder carregar uma estética, puder ser bonita, bem desenhada, pois aí, sim… Mas tudo precisa de ser sólido, e o romance tem, do meu ponto de vista, que ter uma estrutura em que o leitor não diga “pois aqui falta algo” ou que se alongou excessivamente. Todas são partes de um todo que tem que funcionar de uma forma, no fundo, equilibrada. Talvez possa parecer surpreendente que eu diga que escrever um romance é o mesmo que fazer uma cadeira, mas isso só significa o respeito ao trabalho bem-feito: pode ser um romance ou pode ser uma cadeira, e quem diz uma cadeira pode dizer muitíssimas outras coisas.
José Saramago, in As palavras de Saramago

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