segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A sopa e as nuvens

Minha travessa companheira servia-me o jantar e, enquanto isso, pela janela aberta da sala, eu contemplava as arquiteturas movediças que Deus formou com os vapores; maravilhosas construções do impalpável. E dizia em minha contemplação: — Todas essas fantasmagorias são quase tão belas quanto minha linda companheira, a pequena louca monstruosa de olhos verdes.
De repente, recebi um violento soco nas costas e ouvi uma voz rouca e encantadora, uma voz histérica e enrouquecida pela aguardente, a voz de minha querida companheirinha, que me disse: — Vá logo tomar sua sopa, seu mercador de nuvens!
Charles Baudelaire, in Pequenos poemas em prosa

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