Na
idade em que eu fazia umas ficções — é o termo — um dia o
Erico me disse, naquela sua maneira discreta e indireta de dar
conselho: deve-se escrever sempre no presente do indicativo, dá mais
vida à ação, às personagens, o leitor se sente como uma
testemunha ocular do caso.
Trinta
e seis anos depois, o crítico Fausto Cunha notou a preferência, em
meus poemas, pelo pretérito imperfeito. Por quê? Não sei, mas deve
ser porque o tempo passado empresta às coisas um sabor definitivo,
esse misterioso sentimento de saudade com que a gente olha uma cena
num quadro de Renoir, um Anjo ou uma Vênus de Botticelli. Sem
escusar-me, eu diria que o pretérito imperfeito não é um tempo
morto: é um tempo continuativo...
Porém,
deixemos de bizantinismos e voltemos ao Erico. Confesso-lhe que
sempre penso nele no presente do indicativo. Ele está aqui, tão
presente que nem dá tempo para a saudade. Como também estão comigo
o Augusto Meyer, o Telmo Vergara, a Cecília...
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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