domingo, 28 de maio de 2017

O inominável

O eu nem nome tem. O meu nome, diz ele, é João. E daí? É como se dissesse o meu nariz, os meus óculos, o meu par de sapatos.
Este eu irredutível é o que existe de mais impessoal portanto, mais vasto e mais profundo — o assunto primeiro e último dos poemas, o campo de batalha dos anjos.
O resto é a pessoa ocasional, isto é, o indivíduo a quem emprestaram o nome de João, que comprou um par de sapatos, que usa óculos e se julga dono do próprio nariz.
Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

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