quarta-feira, 3 de maio de 2017

A rã e o boi


Quatro rãs muito bonitinhas, uma mãe rãzona e três filhas rãzinhas, viram um boi pela primeira vez na vida. O boi, sozinho, puxava arado conduzido por um lavrador. As três rãzinhas quase morreram de admiração. Que animalzão! Que fortão! Que bichano! Que gatão!
A mãe rãzona, enciumada, exclamou:
- Mas vocês acharam esse boi assim tão forte? Que é que há?, não exagerem. No máximo é uns dois centímetros mais alto do que eu. Basta eu querer...
- Querer como? -disseram as rãzinhas em coro.* -Você é uma rã, e até, como escreve o Millôr aí em cima, uma rãzona. Mas jamais será sequer um boizinho.
- Ora - disse a rãzona -, é só uma questão de comer mais e respirar mais fundo.
E ali mesmo, na frente das filhas perplexas, a rãzona começou a comer mais e respirar tudo que podia em volta. E foi crescendo e perguntando:
- Já estou do tamanho dele?
E as filhas, sempre em coro:
- Não. Ainda falta muito.
Estimulada pelas negativas, a mãe foi comendo e respirando, respirando e comendo, até que as filhas tiveram de concordar:
- Espantoso, mãe, agora a senhora está um boi de verdade. Faz mu!
E quando ela fez mu, o lavrador, que ia passando de novo com o arado e o boi, também ficou entusiasmado:
- Ei, ô rãzona metida a boi, de hoje em diante você vai puxar o meu arado pra serviços especiais. Tem aí um terreno cheio de morrinhos e eu não consegui fazer o diabo desse boi frouxo aprender a saltar.
E a partir daí, a rãzona teve que trabalhar de sol a sol sem soltar um pio, isto é, um coaxo.
MORAL: À rã o que é da rã, e ao boi o que é do boi, ou A tecnologia agrícola exige especialização.
Millôr Fernandes, in Fábulas fabulosas

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