Quatro
rãs muito bonitinhas, uma mãe rãzona e três filhas rãzinhas,
viram um boi pela primeira vez na vida. O boi, sozinho, puxava arado
conduzido por um lavrador. As três rãzinhas quase morreram de
admiração. Que animalzão! Que fortão! Que bichano! Que gatão!
A
mãe rãzona, enciumada, exclamou:
-
Mas vocês acharam esse boi assim tão forte? Que é que há?, não
exagerem. No máximo é uns dois centímetros mais alto do que eu.
Basta eu querer...
-
Querer como? -disseram as rãzinhas em coro.* -Você é uma rã, e
até, como escreve o Millôr aí em cima, uma rãzona. Mas jamais
será sequer um boizinho.
-
Ora - disse a rãzona -, é só uma questão de comer mais e respirar
mais fundo.
E
ali mesmo, na frente das filhas perplexas, a rãzona começou a comer
mais e respirar tudo que podia em volta. E foi crescendo e
perguntando:
-
Já estou do tamanho dele?
E
as filhas, sempre em coro:
-
Não. Ainda falta muito.
Estimulada
pelas negativas, a mãe foi comendo e respirando, respirando e
comendo, até que as filhas tiveram de concordar:
-
Espantoso, mãe, agora a senhora está um boi de verdade. Faz mu!
E
quando ela fez mu, o lavrador, que ia passando de novo com o arado e
o boi, também ficou entusiasmado:
-
Ei, ô rãzona metida a boi, de hoje em diante você vai puxar o meu
arado pra serviços especiais. Tem aí um terreno cheio de morrinhos
e eu não consegui fazer o diabo desse boi frouxo aprender a saltar.
E
a partir daí, a rãzona teve que trabalhar de sol a sol sem soltar
um pio, isto é, um coaxo.
MORAL:
À rã o que é da rã, e ao boi o que é do boi, ou A tecnologia
agrícola exige especialização.
Millôr
Fernandes, in
Fábulas
fabulosas
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