domingo, 2 de abril de 2017

Olhar de pássaro

Por viver muitos anos dentro do mato moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro —
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas
e podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.
Manoel de Barros

Nenhum comentário:

Postar um comentário