A Manuel Bandeira
Existia,
e ainda existe
Um
certo beco na Lapa
Onde
assistia, não assiste
Um
poeta no fundo triste
No
alto de um apartamento
Como
no alto de uma escarpa.
Em
dias de minha vida
Em
que me levava o vento
Como
uma nave ferida
No
cimo da escarpa erguida
Eu
via uma luz discreta
Acender
serenamente.
Era
a ilha da amizade
Era
o espírito do poeta
A
buscar pela cidade
Minha
louca mocidade.
Como
uma nave ferida
Perambulando
patética.
E
eu ia e ascensionava
A
grande espiral erguida
Onde
o poeta me aguardava
E
onde tudo me guardava
Contra
a angústia do vazio
Que
embaixo me consumia.
Um
simples apartamento
Num
pobre beco sombrio
Na
Lapa, junto ao convento...
Porém,
no meu pensamento
Era
o farol da poesia
Brilhando
serenamente.
Vinicius
de Moraes
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