A
profissão de bufarinheiro está regulamentada; contudo, ninguém
mais a exerce, por falta de bufarinhas. Passaram a vender sorvetes e
sucos de fruta, e são conhecidos como ambulantes.
Conheci
o último bufarinheiro de verdade, e comprei dele um espelhinho que
tinha no lado oposto uma bailarina nua. Que mulher! Sorria para mim
como prometendo coisas, mas eu era pequeno, e não sabia que coisas
fossem. Perturbava-me.
Um
dia quebrei o espelho, mas a bailarina ficou intacta. Só que não
sorria mais para mim. Era um cromo como outro qualquer. Procurei o
bufarinheiro, que não estava mais na cidade, e provavelmente teria
mudado de profissão. Até hoje não sei qual era o mágico: se o
bufarinheiro, se o espelho.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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