Há
um lado bom em mim.
O morto não é responsável
Nem o rumor de um jasmim.
Há um lado mau em mim,
Cordial como um costureiro,
Tocado de afetações delicadíssimas.
O morto não é responsável
Nem o rumor de um jasmim.
Há um lado mau em mim,
Cordial como um costureiro,
Tocado de afetações delicadíssimas.
Há
um lado triste em mim.
Em campo de palavra, folha branca.
Em campo de palavra, folha branca.
Bois
insolúveis, metafóricos, tartamudos,
Sois em mim o lado irreal.
Sois em mim o lado irreal.
Há
um lado em mim que é mudo.
Costumo chegar sobraçando florilégios,
Visitando os frades, com saudades do colégio.
Costumo chegar sobraçando florilégios,
Visitando os frades, com saudades do colégio.
Um
lado vulgar em mim,
Dispensando-me incessante de um cortejo.
Um lado lírico também:
Dispensando-me incessante de um cortejo.
Um lado lírico também:
Abelhas
desordenadas de meu beijo;
Sei usar com delicadeza um telefone,
Não me esqueço de mandar rosas a ninguém.
Sei usar com delicadeza um telefone,
Não me esqueço de mandar rosas a ninguém.
Um
animal em mim,
Na solidão, cão,
No circo, urso estúpido, leão,
Na solidão, cão,
No circo, urso estúpido, leão,
Em
casa, homem, cavalo…
Há
um lado lógico, certo, irreprimível, vazio
Como um discurso,
Um lado frágil, verde-úmido.
Há um lado comercial em mim,
Moeda falsa do que sou perante o mundo.
Como um discurso,
Um lado frágil, verde-úmido.
Há um lado comercial em mim,
Moeda falsa do que sou perante o mundo.
Há
um lado em mim que está sempre no bar,
Bebendo sem parar.
Bebendo sem parar.
Há
um lado em mim que já morreu.
Às vezes penso se esse lado não sou eu.
Às vezes penso se esse lado não sou eu.
Paulo
Mendes Campos
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