terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Uma viagem baleeira

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Embora eu não saiba dizer exatamente o porquê de os diretores de cena, as Parcas, terem me dado esse papel mesquinho numa viagem baleeira, enquanto outros foram escolhidos para papéis magníficos em tragédias elevadas, papéis curtos e fáceis em comédias elegantes e papéis divertidos em farsas – muito embora não saiba exatamente o porquê disso; ainda assim, agora que rememoro todas as circunstâncias, creio entender um pouco as causas e os motivos que, sendo astutamente apresentados a mim sob vários disfarces, me induziram a fazer o papel que fiz, afora a lisonjeira ilusão de se tratar de uma escolha resultante de meu imparcial livre-arbítrio e juízo perspicaz.
Principal dentre esses motivos foi a extraordinária ideia da grande baleia em si mesma. Um monstro tão portentoso e misterioso despertava toda a minha curiosidade. Depois, os mares remotos e selvagens onde se movia a sua massa insular, os perigos indescritíveis e inomináveis da baleia; isso tudo, com todas as maravilhas dos milhares de paisagens e sons da Patagônia, ajudou a influenciar meu desejo. Para outros homens, talvez, coisas assim não servissem de estímulo; mas, para mim, sou atormentado por um desejo permanente de coisas distantes. Adoro viajar por mares proibidos e desembarcar em costas selvagens. Sem ignorar o que é bom, sou rápido em perceber o horror, e poderia ficar bem com ele – se me deixassem –, uma vez que é bom manter relações amigáveis com os moradores do lugar onde se vive.
Assim, por todas essas coisas, a viagem baleeira foi bem-vinda; as grandes comportas do mundo das maravilhas se abriram e, na presunção arrebatadora que me impeliu a meu propósito, de duas em duas ali flutuavam, para dentro de minha alma, procissões intermináveis de baleias, e, no meio de todas elas, um grande fantasma encapuzado, parecendo uma montanha de neve suspensa no ar.”
Herman Melville, in Moby Dick

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