Bukowski, por Martin Hanko
Hoje,
foi devagar no hipódromo. Minha maldita vida pendurada no gancho.
Vou lá todos os dias. Não encontro ninguém lá, só os
funcionários. Provavelmente, tenho alguma doença. Saroyan perdeu
seu rabo no hipódromo, Fante, nas cartas, e Dostoievsky, na roleta.
E realmente não é uma questão de dinheiro, a não ser que você
fique duro. Eu tinha um amigo jogador que dizia: “Não me importo
se perco ou se ganho, só quero apostar”. Tenho mais respeito pelo
dinheiro. Tive pouco na maior parte da vida. Sei o que é um banco de
praça, e o proprietário bater na porta. Só existem duas coisas
erradas com o dinheiro: quando é demais ou de menos.
Acho
que sempre arranjamos alguma coisa para nos atormentar. E, no
hipódromo, você sente as outras pessoas, a escuridão desesperada,
e como jogam e desistem com facilidade. A multidão do hipódromo é
o mundo em tamanho menor, a vida lutando contra a morte e perdendo.
No final, ninguém ganha, buscamos apenas uma prorrogação, um
momento sem ser ofuscado. (Merda, a brasa do cigarro queimou um dos
meus dedos enquanto estava meditando sobre esta falta de sentido.
Isto me acordou, me tirou deste estado sartriano!) Diabos, precisamos
de humor, precisamos rir. Eu costumava rir mais, eu costumava fazer
tudo mais, exceto escrever. Hoje, escrevo e escrevo e escrevo, quanto
mais velho fico, mais escrevo, dançando com a morte. Excelente show.
E acho que a coisa está boa. Um dia, dirão: “Bukowski está
morto”, e daí serei verdadeiramente descoberto e pendurado em
fedorentos e brilhantes postes de luz. E daí? A imortalidade é uma
estúpida invenção dos vivos. Você vê o que faz o hipódromo? Faz
com que o texto flua. Relâmpagos e sorte. O último azulão
cantando. Qualquer coisa que digo soa bem porque eu arrisco quando
escrevo. Gente demais é cuidadosa demais. Estudam, ensinam e
fracassam. A convenção apaga a sua chama.
Me
sinto melhor agora, aqui neste segundo andar com o Macintosh. Meu
companheiro.
E
Mahler está no rádio, desliza com tanta facilidade, arriscando
muito, isso é necessário às vezes. Então, ele manda um daqueles
trechos apoteóticos. Obrigado, Mahler, pego emprestado de você e
nunca poderei pagar.
Fumo
demais, bebo demais, mas não consigo escrever demais, o texto fica
vindo e peço mais e chega e se mistura com Mahler. Às vezes, paro
deliberadamente. Digo espere um pouco, vá dormir ou olhe seus nove
gatos ou sente com sua mulher no sofá. Você está no hipódromo ou
com o Macintosh. E então paro, piso no freio, estaciono a maldita
coisa. Algumas pessoas escreveram que meus livros as ajudaram a
seguir em frente. Me ajudaram também. Os livros, os cavalos, os nove
gatos.
Aqui,
há uma pequena sacada, a porta está aberta e posso ver as luzes dos
carros na Harbor Freeeway sul, nunca param, o rolar das luzes, sem
parar. Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão
pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer
com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados
e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada.
Continue,
Mahler! Você fez com que esta fosse uma noite maravilhosa. Não
pare, filho da puta! Não pare!
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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