Lembrei-me
de um artista goiano que não tirou diploma mas ficou artista e foi
convidado por uma turma para ser paraninfo. Ficou apavorado, porque
fazer arte ele sabia, mas não sabia fazer discursos, especialmente
discurso segundo as etiquetas da academia. Procurou o auxílio de um
amigo, reitor da universidade, e implorou que ele lhe escrevesse o
tal discurso. Negado o seu pedido, o artista resolveu fazer uma
pesquisa: entrevistou várias pessoas já formadas para saber o que,
no discurso do seu paraninfo, mais o impressionara. O resultado da
sua pesquisa foi surpreendente: nenhum dos entrevistados tinha a
menor ideia do que o paraninfo havia falado. Assim, munido desse
saber, no dia da formatura ele se levantou perante o público
ilustrado de professores, pais e formandos, e no seu jeito de quem
não sabia falar a língua própria, contou dos resultados da sua
pesquisa. E concluiu: “Como vocês não vão se lembrar mesmo do
que vou falar, quero só dizer que não vou falar nada. Só quero que
vocês sejam muito felizes”. Falou três minutos e foi
delirantemente aplaudido. Do seu discurso ninguém se esqueceu.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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