domingo, 4 de dezembro de 2016

Discurso de paraninfo

Lembrei-me de um artista goiano que não tirou diploma mas ficou artista e foi convidado por uma turma para ser paraninfo. Ficou apavorado, porque fazer arte ele sabia, mas não sabia fazer discursos, especialmente discurso segundo as etiquetas da academia. Procurou o auxílio de um amigo, reitor da universidade, e implorou que ele lhe escrevesse o tal discurso. Negado o seu pedido, o artista resolveu fazer uma pesquisa: entrevistou várias pessoas já formadas para saber o que, no discurso do seu paraninfo, mais o impressionara. O resultado da sua pesquisa foi surpreendente: nenhum dos entrevistados tinha a menor ideia do que o paraninfo havia falado. Assim, munido desse saber, no dia da formatura ele se levantou perante o público ilustrado de professores, pais e formandos, e no seu jeito de quem não sabia falar a língua própria, contou dos resultados da sua pesquisa. E concluiu: “Como vocês não vão se lembrar mesmo do que vou falar, quero só dizer que não vou falar nada. Só quero que vocês sejam muito felizes”. Falou três minutos e foi delirantemente aplaudido. Do seu discurso ninguém se esqueceu.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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