Não
bastasse a crise financeira, econômica, social, política, de
costumes ou a maré alta de preconceitos, ainda temos de conviver
diariamente com a “inteligência” furibunda dos intolerantes.
Se
você disser que José Dirceu foi um ídolo seu na mocidade, mas
entregou-se, por delírio do poder, à mais reles e suja das relações
como o mesmo poder almejado, que é a corrupção; pode esperar
porrada.
Haverá
sempre um intolerante petista ou congênere armado com a mais pueril
das argumentações para fulminá-lo com virulência verbal,
principalmente na internet.
Se
você disser que o Poder do Estado constituído, não pode exercer
vingança contra quem quer que seja, ou execração pública, mesmo
contra o mais nojento dos bandidos, corrupto ou pedófilo, traficante
ou sequestrador; pode esperar porrada.
Haverá
sempre um hipócrita de plantão arrotando santidade e cobrando
sacrifício público contra os impuros. Principalmente na internet.
No
meio da serenidade, onde habitam os sensatos, cientes de que ser
honesto é uma obrigação de todos, não motivo de festa, e que
todos nós, sem exceção, somos frágeis, passíveis de delinquir,
fica difícil opinar ante a fúria do moralismo intolerante.
O
moralista cristão retira da Bíblia, crônica dos hebreus, povo
mercantilista e messiânico, apenas os textos que alimentam sua
intolerância. E os há de sobra.
O
moralista muçulmano retira do Alcorão, poema em retalhos de um belo
poeta e profeta delirante, apenas as estrofes que justificam a
violência.
O
moralista de esquerda ainda guarda nos alfarrábios da decoreba os
mesmos textos repetidos nas passeatas libertárias. Ditos por ele ou
ouvido dos ancestrais. Não admite revisão, nem discute argumentos.
O maniqueísmo é seu alforje.
O
moralista de direita faz da “moral” sua penumbra. E no escuro da
intransigência esconde sua ganância, guarda sua sujeira e
delicia-se a apontar nos outros os próprios defeitos. Está na outra
ponta, a trezentos e sessenta graus, bem próximo do seu inimigo da
esquerda.
O
que tem o jumento com isso? O jegue, hoje abandonado e esquecido, foi
um edificador dos sertões. No seu dorso, em pequenos caixotes de
madeira, presos às alças da cangalha, era carregado o material para
a feitura dos açudes.
Há
uma coisa do jumento que o matuto não venera. O som que ele produz.
O relincho. Alto e feio, o sertanejo fez uma onomatopeia da parte
final do som, reduzindo o nome para “rincho”.
Uma
perfeição fonética. Relinchar, não. Rinchar. E o pobre jegue, que
transportou a família do carpinteiro, fugida de Herodes, para que
Maria desse à luz o Nazareno, sofre a discriminação de produzir o
som mais feio de quantos trinados e mugidos belos produz o sertão.
O
intolerante, igual ao jegue, não pensa, não argumenta, não
discute. O intolerante rincha. Té mais.
François
Silvestre, in blogs.portalnoar.com/francoissilvestre
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