domingo, 13 de novembro de 2016

Três modelos teóricos

Existem apenas três modelos de interpretação do fenômeno literário realmente consistentes – na minha opinião. Faço essa coda autorreferencial porque sempre há alguém que dirá: “esta é a tua opinião”. Sim, tudo é uma questão de opinião. A objetividade absoluta, além de uma impossibilidade, é uma falácia.
Durante muito tempo, talvez desde Platão e Aristóteles, a disputa ideológica sobre o texto literário teve duas fortes correntes: a que o via como retrato da realidade social; e a outra, que o examinava como sucessão de sistemas estético-formais sem relação com a história e a sociedade. A sociologia clássica carimbava o primeiro de “esquerdista”, e o segundo de “direitista”. Rótulos – é verdade –, mas sem os rótulos acabamos bebendo vodca por vinho branco.
Na década de 1960, surgiu, na Alemanha, o que chamamos, em português, de estética da recepção, que é a terceira via de interpretação teórica da literatura. Não percebeu o primeiro tradutor, e talvez nem o teórico, que Rezeptionästhetik é uma redundância. Se “estética” vem do grego, e vem, que lá significava “sensação”, o sintagma “estética-da-recepção” é tautológico, pois só se pode “receber” o que se “sente”. Enfim, firulas etimológicas, boas para amantes de palavras-cruzadas.
Para Hans Robert Jauss, criador da estética da recepção, “qualquer obra de arte literária só será afetiva, só será re-criada ou ‘concretizada’, quando o leitor a legitimar como tal, relegando para plano secundário o trabalho do autor e o próprio texto criado. Para isso, é necessário descobrir qual o ‘horizonte de expectativas’ que envolve essa obra, pois todos os leitores investem certas expectativas nos textos que leem em virtude de estarem condicionados por outras leituras já realizadas”.
Ou seja, para Jauss, quem dá sentido ao texto é o leitor, e não o crítico. E o que realmente importa não é a obra em si, mas a relação que o leitor estabelece com a obra.
Charles Kiefer, in Para ser escritor

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