“Falácia”
é um animal multiforme que nunca está onde parece estar. Um dia um
viajante chamado Pseudônimo (não é o seu verdadeiro nome) chega à
casa de um criador de falácias, Otorrino. Comenta que os negócios
de Otorrino devem estar indo muito bem, pois seus campos estão
cheios de falácias. Mas Otorrino não parece muito contente.
Lamenta-se:
-
As falácias nunca estão onde parecem estar. Se elas parecem estar
no meu campo e porque estão em outro lugar.
E
chora:
-
Todos os dias, de manhã, eu e minha mulher, Bazófia, saímos pelos
campos a contar falácias. E cada dia há mais falácias no meu
campo. Quer dizer, cada dia eu acordo mais pobre, pois são mais
falácias que eu não tenho.
-
Lhe faço uma proposta - disse Pseudônimo. - Compro todas as
falácias do seu campo e pago um pinote por cada uma. -
Um
pinote por cada uma? - disse Otorrino, mal conseguindo disfarçar o
seu entusiasmo. - Eu devo não ter umas cinco mil falácias.
-
Pois pago cinco mil pinotes e levo todas as falácias que você não
tem.
-
Feito.
Otorrino
e Bazófia arrebanharam as cinco mil falácias para Pseudônimo. Este
abre o seu comichão e começa a tirar pinotes invisíveis e
colocá-los na palma da mão estendida de Otorrino.
-
Não estou entendendo - diz Otorrino. - Onde estão os pinotes?
-
Os pinotes são como as falácias - explica Pseudônimo. - Nunca
estão onde parecem estar. Você está vendo algum pinote na sua mão?
-
Nenhum.
-
É sinal de que eles estão aí. Não deixe cair.
E
Pseudônimo seguiu viagem com cinco mil falácias, que vendeu para um
frigorífico inglês, o Filho and Sons. Otorrino acordou no outro dia
e olhou com satisfação para o seu campo vazio. Abriu o besunto, uma
espécie de cofre, e olhou os pinotes que pareciam não estar ali.
Estava rico!
Na
cozinha, Bazófia botava veneno no seu pirão.
Luís
Fernando Veríssimo, in Comédias para se ler na escola
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