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Eu
almoçava num restaurante e ouvia-se música: Mozart, Pequena
serenata, uma das peças mais leves, alegres e brincalhonas
jamais escritas. Senti-me feliz. Quis que o dono ou dona do
restaurante soubesse da minha alegria. Dirigi-me à moça do caixa:
“Por favor, diga ao dono ou dona do restaurante que a comida estava
ótima e a música melhor que a comida”. A moça me olhou espantada
e perguntou: “O senhor está falando sério ou está me gozando?”.
Se eu só tivesse elogiado a comida ela teria compreendido. Mas que
eu tivesse elogiado a música, e música de Mozart, isso lhe era
incompreensível. Só poderia ser gozação... Assim, minha alegria
se quebrou ao me dar conta do fato de que há pessoas, muitas
pessoas, para quem Mozart é barulho. Sorri para a moça e falei
sério: “Não, de verdade...”. Fui-me imaginando que ela estaria
pensando que há pessoas com gosto musical muito esquisito…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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