Bernardo
é quase árvore.
Silêncio
dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe.
E
vêm pousar em seu ombro.
Seu
olho renova as tardes.
Guarda
num velho baú seus instrumentos de trabalho:
1
abridor de amanhecer
1
prego que farfalha
1
encolhedor de rios — e
1
esticador de horizontes.
(Bernardo
consegue esticar o horizonte
usando
três fios de teias de aranha.
A
coisa fica bem esticada.)
Bernardo
desregula a natureza:
Seu
olho aumenta o poente.
(Pode
um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?)
Manoel
de Barros
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