sábado, 11 de junho de 2016

Emulsão de Scott

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Como é que uma coisa ruim vira coisa boa, e só é boa se continuar a ser ruim? Não, não pensem que endoidei. Vou contar o que aconteceu. Esses dias de outono, céu muito azul, um friozinho gostoso, as cores mais brilhantes... Me lembrei, com saudade, da minha infância em Minas. Lembrei-me que, quando chegava o mês de julho, mês de férias, era o tempo de tomar Emulsão de Scott. Para quem não sabe, Emulsão de Scott é um fortificante à base de óleo de fígado de bacalhau. Branco, pastoso, difícil de engolir, malcheiroso, gosto ruim. Vinha a minha mãe com a colher de Emulsão de Scott numa mão e uma tampa de laranja na outra, pra tirar gosto e cheiro. Pois não é que fiquei com saudade da Emulsão de Scott! Pensei, então, que eu gostaria de tomar Emulsão de Scott para voltar, na imaginação, à minha infância. Fui à farmácia, comprei um vidro e preparei-me. Mas, oh! decepção! Os laboratórios estragaram a emulsão. Deixou de ser branca. Está cor-de-rosa! E o que fizeram com o gosto ruim de óleo de fígado de bacalhau? Estragaram-no com sabor doce de morango! Fracassou minha programada volta à infância! Porque Emulsão de Scott, para ser boa, para ter poderes mágicos, tem de ser ruim…
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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