Lágrimas
da vida inteira, brotadas do tempo e da pena, empapam a sua cara. No
fundo, no triste, vê nublado o mundo. Derrotada, diz adeus.
Vários
dias durou a confissão dos pecados de toda a sua existência frente
ao impassível, implacável padre Antonio Núfiez de Miranda, e todo
o resto será penitência. Com tinta de seu sangue escreve uma carta
ao Tribunal Divino, pedindo perdão.
Já
não navegarão suas velas leves e suas quilhas graves pelo
mar da poesia. Sor Juana Inês de la Cruz abandona os estudos humanos
e renuncia às letras. Pede a Deus que lhe dê como presente o
esquecimento e escolhe o silêncio, aceita-o, e assim perde a América
a sua melhor poetisa.
Pouco
sobreviverá o corpo a este suicídio da alma. Que se envergonha a
vida de durar-me tanto …
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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