Ir
à praia cedo, como na infância. As ilhas no horizonte ainda estão
veladas pela névoa da madrugada. O mar andou bravo esta noite,
arrancando algas e mexilhões das pedras, em seu grande assanhamento
de lua; respirar seu hálito acre; dar um mergulho na água fria, na
praia ainda solitária, levar umas pancadas de onda, voltar para o
sol na areia. E andar à toa ao longo da praia, chapinhando na espuma
branca.
Mas
encontro, com surpresa, uma senhora conhecida. Ela traz pela primeira
vez à praia o seu menino, que deve ter dois anos. Fala com ele,
ergue-o no ar, brinca, ri, toda contente de ver seu menino nu
brilhando ao sol matinal. Vou seguir caminho, mas me detenho a
olhá-la: carregou a criança para junto da espuma. O garoto, que
ria, olha pela primeira vez, assim de perto, o mar; e está sério.
Uma língua de espuma avança até seu pezinho. Ele choraminga, olha
a mãe que o excita, rindo, batendo palmas. Ele se anima outra vez,
talvez sinta que o mar é bom, é um novo brinquedo da mãe. Outra
espuma se aproxima, mas não chega até ele; a mãe avança o braço,
bate com a palma aberta na água, sempre falando, rindo. Ele olha,
entre inquieto e divertido. Vem outra onda, mas a mãe o ergue no ar;
a água fria beija apenas os seus pezinhos.
Eu
me afasto mais; longe, me sento na areia, e fico olhando o quadro.
Contra a luz, já não distingo as feições nem ouço a voz da
mulher. Assim, com a silhueta cortada contra a luz que se reflete no
chão molhado, ela parece estar nua com o seu menino. É apenas uma
jovem fêmea que ensina o mar e o mundo à sua cria; transmite-lhe a
experiência da espécie e o sentimento dos deuses; na sua graça
matinal esse batismo tem uma beleza solene.
Rubem
Braga, in Ai de ti, Copacabana
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