terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Um doutor

Um doutor veio formado de São Paulo. Almofadinha.
Suspensórios, colete, botina preta de presilhas. E um
trejeito no andar de pomba-rolinha. No verbo, diga-se
de logo, usava naftalina. Por caso, era um pernóstico
no falar. Pessoas simples da cidade lhe admiravam a
pose de doutor. Eu só via o casco. Fomos de tarde no
Bar O Ponto. Ele, meu pai e este que vos fala. Este
que vos fala era um rebelde adolescente. De pronto
o doutor falou pra meu pai: Meus parabéns Seo João,
parece que seu filho agora endireitou! E meu pai:
Ele nunca foi torto. Pintou um clima de urubu com
mandioca entre nós. O doutor pisou no rabo, eu
pensei. Ele ainda perguntou: E o comunismo dele? Está
quarando na beira do rio entre as capivaras, o pai respondeu.
O doutor se levantou da mesa e saiu com
seu andar de vespa magoada.
Manoel de Barros

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