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A
ameixa gorda, de puro caldo que te inunda de doçura, deve ser
comida, como você me ensinou, com os olhos fechados. A ameixa
vermelhona, de polpa apertada e vermelha, deve ser comida sendo
olhada.
Você
gosta de acariciar o pêssego e despi-lo a faca, e prefere que as
maçãs venham opacas para que cada um possa fazê-las brilhar com as
mãos.
O
limão inspira a você respeito, e as laranjas, riso. Não há nada
mais simpático que as montanhas de rabanete e nada mais ridículo
que o abacaxi, com sua couraça de guerreiro medieval.
Os
tomates e os pimentões parecem nascidos para se exibirem de pança
para o sol nas cestas, sensuais de brilhos e preguiças, mas na
realidade os tomates começam a viver sua vida quando se misturam ao
orégano, ao sal e ao azeite, e os pimentões não encontram seu
destino até que o calor do forno os deixa em carne viva e nossas
bocas os mordem com desejo.
As
especiarias formam, na feira, um mundo à parte. São minúsculas e
poderosas. Não há carne que não se excite e jorre caldos, carne de
vaca ou de peixe, de porco ou de cordeiro, quando penetrada pelas
especiarias. Nós temos sempre presente que se não fosse pelos
temperos não teríamos nascido na América, e nos teria faltado
magia na mesa e nos sonhos. Ao fim e ao cabo, foram os temperos que
empurraram Cristóvão Colombo e Simbad, o Marujo.
As
folhinhas de louro têm uma linda maneira de se quebrarem em sua mão
antes de cair suavemente sobre a carne assada ou os ravioles. Você
gosta muito do romeiro e da verbena, da noz-moscada, da alfavaca e da
canela, mas nunca saberá se é por causa dos aromas, dos sabores ou
dos nomes. A salsinha, tempero dos pobres, leva uma vantagem sobre
todos os outros: é o único que chega aos pratos verde e vivo e
úmido de gotinhas frescas.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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