quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Notas de um velho safado (6)


Criei a imagem de eterno bêbado em algum lugar na minha obra e há pouca realidade por trás disso. Mesmo assim, sinto que meu trabalho disse outras coisas. Mas o único tema que parece sobreviver é o do eterno bêbado. Recebo telefonemas, geralmente por volta das três e meia da madrugada:
Bukowski?
A-hã.
Charles Bukowski?
A-hã.
Cara, eu só queria falar contigo!
Você está bêbado, amigo.
E coelhos também cagam. E daí?
Escuta, não sei quem você é, mas você não sai ligando para as pessoas às três da manhã bêbado, especialmente para estranhos. Isso não se faz.
Sério?
Sério.
Nem para o Bukowski?
Não, principalmente para o Bukowski – e desliguei.
Esses garotos acham que têm uma alma gêmea só porque fico bêbado e ligo para pessoas às três da manhã. Eles têm de ser mais originais do que eu. Lembro que uma vez fiquei tão fodido e espantei tantas mulheres que liguei para a moça das horas e fiquei ouvindo a voz dela por cinco ou dez minutos: “Agora são três horas, trinta minutos e vinte segundos, agora são três horas, trinta minutos e trinta segundos...” E você sabe que voz ela tem. Da próxima vez que pensar em me ligar, ligue para a moça das horas e, se possível, não me encha o saco.
Charles Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário