Criei
a imagem de eterno bêbado em algum lugar na minha obra e há pouca
realidade por trás disso. Mesmo assim, sinto que meu trabalho disse
outras coisas. Mas o único tema que parece sobreviver é o do eterno
bêbado. Recebo telefonemas, geralmente por volta das três e meia da
madrugada:
–
Bukowski?
– A-hã.
–
Charles Bukowski?
– A-hã.
– Cara,
eu só queria falar contigo!
– Você
está bêbado, amigo.
– E
coelhos também cagam. E daí?
–
Escuta, não sei quem você é, mas você
não sai ligando para as pessoas às três da manhã bêbado,
especialmente para estranhos. Isso não se faz.
–
Sério?
–
Sério.
– Nem
para o Bukowski?
– Não,
principalmente para o Bukowski – e desliguei.
Esses
garotos acham que têm uma alma gêmea só porque fico bêbado e ligo
para pessoas às três da manhã. Eles têm de ser mais originais do
que eu. Lembro que uma vez fiquei tão fodido e espantei tantas
mulheres que liguei para a moça das horas e fiquei ouvindo a voz
dela por cinco ou dez minutos: “Agora são três horas, trinta
minutos e vinte segundos, agora são três horas, trinta minutos e
trinta segundos...” E você sabe que voz ela tem. Da próxima vez
que pensar em me ligar, ligue para a moça das horas e, se possível,
não me encha o saco.
Charles
Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário