sábado, 28 de fevereiro de 2015

Medo

De que Ivanóv tinha medo? Ansky se perguntava em seus cadernos. Não do perigo físico, já que como ex-bolchevique muitas vezes esteve perto da detenção, da prisão e da deportação, e embora não se pudesse dizer que fosse um tipo valente, também não podia afirmar, sem faltar com a verdade, que fosse uma pessoa covarde e sem peito. O medo de Ivánov era de índole literária. Isto é, seu medo era o medo que sente a maioria daqueles cidadãos que um belo (ou horrendo) dia decidem transformar o exercício das letras e, sobretudo, o exercício da ficção em parte integrante das suas vidas. Medo de serem ruins. Também medo de não serem reconhecidos. Mas, sobretudo, medo de serem ruins. Medo de que seus esforços e seus labores caiam no esquecimento. Medo da pisada que não deixa marca. Medo dos elementos do acaso e da natureza que apagam as marcas pouco profundas. Medo de jantarem sozinhos e de que ninguém repare na sua presença. Medo de não serem apreciados. Medo do fracasso e do ridículo. Mas sobretudo medo de serem ruins.”
Roberto Bolaño, in 2666

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