“De
que Ivanóv tinha medo? Ansky se perguntava em seus cadernos. Não do
perigo físico, já que como ex-bolchevique muitas vezes esteve perto
da detenção, da prisão e da deportação, e embora não se pudesse
dizer que fosse um tipo valente, também não podia afirmar, sem
faltar com a verdade, que fosse uma pessoa covarde e sem peito. O
medo de Ivánov era de índole literária. Isto é, seu medo era o
medo que sente a maioria daqueles cidadãos que um belo (ou horrendo)
dia decidem transformar o exercício das letras e, sobretudo, o
exercício da ficção em parte integrante das suas vidas. Medo de
serem ruins. Também medo de não serem reconhecidos. Mas, sobretudo,
medo de serem ruins. Medo de que seus esforços e seus labores caiam
no esquecimento. Medo da pisada que não deixa marca. Medo dos
elementos do acaso e da natureza que apagam as marcas pouco
profundas. Medo de jantarem sozinhos e de que ninguém repare na sua
presença. Medo de não serem apreciados. Medo do fracasso e do
ridículo. Mas sobretudo medo de serem ruins.”
Roberto
Bolaño, in 2666
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