“O
destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo,
não conhece a linha reta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de
tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto
conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada diretamente a um alvo
que, por assim dizer, a estivesse esperando desde o princípio, sem se mover.
Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a
decidir-se. Tanto assim que antes de converter Rimbaud em traficante de armas e
marfim em África, o obrigou a ser poeta em Paris.”
José Saramago, in Cadernos de Lanzarote (1994)
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