sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A rosa desfolhada


Tento compor o nosso amor 
Dentro da tua ausência 
Toda a loucura, todo o martírio 
De uma paixão imensa 
Teu toca-discos, nosso retrato 
Um tempo descuidado. 

Tudo pisado, tudo partido 
Tudo no chão jogado 
E em cada canto 
Teu desencanto 
Tua melancolia 
Teu triste vulto desesperado 
Ante o que eu te dizia 
E logo o espanto e logo o insulto 
O amor dilacerado 
E logo o pranto ante a agonia 
Do fato consumado. 

Silenciosa 
Ficou a rosa 
No chão despetalada 
Que eu com meus dedos tentei a medo 
Reconstruir do nada: 
O teu perfume, teus doces pêlos 
A tua pele amada 
Tudo desfeito, tudo perdido 
A rosa desfolhada.
Vinicius de Moraes

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