“Aqueles
que são invejados entristecem-se com o rancor que sentem à sua volta; se são
orgulhosos, por receio de algum prejuízo; se generosos, por compaixão dos que
invejam. Mas depressa se alegram: se me invejam, isso quer dizer que tenho um
valor, dos méritos, das graças; quer dizer que sentem e reconhecem a minha
grandeza, o meu triunfo. A inveja é a sombra obrigatória do gênio e da glória,
e os invejosos não passam, de forma odiosa, de admiradores rebeldes e
testemunhas involuntárias. Não custa muito perdoar-lhes, quando existe o
direito de me comprazer e desprezá-los. Posso mesmo estar-lhes, com frequência,
gratos pelo fato de o veneno da inveja ser, para os indolentes, um vinho
generoso que confere novo vigor para novas obras e novas conquistas. A melhor
vingança contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um voo
para um cume mais elevado. E talvez não subisse tanto sem o impulso de quem me
queria por terra.
O indivíduo verdadeiramente sagaz faz
mais: serve-se da própria difamação para retocar melhor o seu retrato e
suprimir as sombras que lhe afetam a luz. O invejoso torna-se, sem querer, o
colaborador da sua perfeição.”
Giovanni
Papini, in Relatório Sobre os Homens
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