A
língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O
sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.
Os
dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação
e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos,
fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia,
emancipados de nós.
A
custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.
Carlos
Drummond de Andrade, in O amor natural
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