Margô
voltou de Paris com uma bolsa Vuitton. Contou para as amigas o que passara para
comprar sua bolsa Vuitton. Entrara numa fila enorme em frente à loja Vuitton do
Champs Elysées. No frio! Chegara a brigar com uma japonesa ("Ou chinesa,
sei lá") que tentara cortar a sua frente na entrada da loja. Lá dentro,
custara a ser atendida. Uma multidão. Mas finalmente conseguira.
-
E aqui está ela - disse Margô, mostrando a bolsa Vuitton como um troféu.
Foi quando
aconteceu uma coisa que a Margô jamais esperaria. A Belinha mostrou a sua bolsa
e disse:
- Igual à minha.
Houve um silêncio
constrangido. Depois que se recuperou da surpresa, Margô sorriu e perguntou:
- Você também
esteve em Paris, querida?
- Estive
- Que inferno, a
fila da Vuitton, né?
- Eu não comprei
a bolsa na loja da Vuitton.
- Ah, não? Não
foi no Champs Elysées?
- Foi, mas na
outra calçada.
- Como?
- Estavam
vendendo na rua. Por 19.
O sorriso da
Margô desapareceu. Sua bolsa Vuitton custara exatamente 1.900, na loja.
- Ah. Imitação -
disse.
- Mas é
igualzinha.
- Igualzinha,
igualzinha, não - corrigiu Margô. - A minha é legítima. A sua é falsa.
Belinha então
propôs que todos examinassem as duas bolsas, para descobrir se havia alguma
diferença. Não encontraram nenhuma.
À noite, na cama
com seu marido Oscar, Margô ainda estava furiosa.
- Cachorra!
- O que, bem?
- A Belinha. Não
precisava ter esfregado a bolsa de 19 na minha cara.
- Mas ela foi
honesta. Poderia dizer que comprara a bolsa na loja, igual a você. Poderia ter
mentido.
- Você não vê?
Ela me chamou de otária. De nova-rica deslumbrada. De, de...
- Calma. Sabe que
essa é uma questão filosófica? - disse Oscar. - Uma imitação perfeita só deixa
de ter o mesmo valor do original quando é descoberta. Dizem que várias obras
atribuídas ao Rembrandt não são dele, são de um falsificador. Mas continuam nos
museus, encantando todo o mundo. Por que estragar o prazer de ver ou ter um
Rembrandt, por um detalhe?
- Oscar, você não
está me ajudando.
Hoje, quando
alguém comenta a bolsa da Margô e pergunta se é Vuitton, ela responde.
- Parece, não é?
Mas comprei numa calçada do Champs Elysées. Por US$ 19!
Luís
Fernando Veríssimo, in
www.estadao.com.br
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