sábado, 4 de fevereiro de 2012

O boi zebu e as formigas, de Patativa do Assaré


Um boi Zebu certa vez
Moiadinho de suó,
Querem sabê o que ele fez
Temendo o calor do só?
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E sentou as quatro pata
Em riba de um formiguêro. 

Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
Suas fôia carregando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com mais ninguém
Se ninguém mexe com ela.

Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começou a se acanhá
E foro se reunindo
Nas perna do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra de nada ele senti.

Mas, porém, como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiando
O zebu foi se aperreando
E os casco no chão batia.
Mas, porém, não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia. 

Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só.
E ele zangado às patada, 
Mas a força incorporada
E o valentão não aguenta
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
-Vamo minhas camarada
Acabá com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somo muito miêro
E este zebu é só um.

Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia.
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêia
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um móio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

Com o lombo todo ardendo
Naquele grande aperreio
O zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada quá tem seus direito
Até nas leis naturá.

As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.

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