“Ainda
não tendes advertido, que a inveja faz grande diferença dos mortos aos vivos, e
dos presentes aos passados? Os olhos da inveja são como os do Sacerdote Heli,
dos quais diz o Texto sagrado, que não podiam ver a luz do Templo, senão depois
que se apagava: Oculi ejus
caligaverant, nec poterat videre lucernam Dei, antequam extingueretur.
Enquanto as luzes são vivas, cada reflexo delas é um raio, que cega os olhos da
inveja: porém depois que elas se apagaram, e muito mais se se metem largos anos
em meio, então abre a inveja, como ave noturna, os olhos; então vê o que não
podia ver: então venera e celebra essas mesmas luzes, e levanta sobre as
Estrelas seus resplendores. Por isso disse com grande juízo S. Zeno Veronense,
que todo o invejoso é inimigo dos presentes, e amigo dos passados: In omnibus se inimicum praesentium servat,
amicum vero pereuntium. Os mesmos que agora amam, e veneram tanto a Santo
Antônio, se viveram em seu tempo, o haviam de aborrecer e perseguir; e as
mesmas maravilhas, que tanto celebram e encarecem, se foram obradas na sua
Pátria, as haviam de escurecer e aniquilar”.
Padre
Antônio Vieira, in Sermões
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