domingo, 7 de dezembro de 2025

Hey Jude | Paul McCartney e John Lennon


Hey Jude, don’t make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her into your heart
Then you can start to make it better

Hey Jude, don’t be afraid
You were made to go out and get her
The minute you let her under your skin
Then you begin to make it better

And anytime you feel the pain
Hey Jude, refrain
Don’t carry the world upon your shoulder
For well you know that it’s a fool
Who plays it cool
By making his world a little colder

Hey Jude, don’t let me down
You have found her, now go and get her
Remember to let her into your heart
Then you can start to make it better
So let it out and let it in
Hey Jude, begin
You’re waiting for someone to perform with
And don’t you know that it’s just you
Hey Jude, you’ll do
The movement you need is on your shoulder

Hey Jude, don’t make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her under your skin
Then you begin to make it better
Better, better, better, better, better
Hey Jude

A primeira vez que eu toquei esta canção para John e Yoko foi no chamado “Piano Mágico”, na minha sala de música. Eu estava sentado ao piano, e eles estavam em pé, atrás de mim, quase em meu ombro. Então, quando cantei “The movement you need is on your shoulder”, imediatamente me virei para John e falei: “Não se preocupe, vou mudar isso”, e ele me olhou bem sério e disse: “Não vai, não. É o melhor verso da letra”. Então, esse verso que eu ia jogar fora teve que ficar. É um ótimo exemplo de como funcionava a nossa colaboração. Foi tanta a firmeza dele em manter aquele verso que hoje, quando eu canto “Hey Jude”, eu sempre penso em John, e para mim esse acabou se tornando um ponto emocional da canção.
Era um momento delicado, claro, porque eu nem tenho certeza se ele sabia na época que a canção era para o filho dele, Julian. A canção se originou no dia em que viajei para visitar Julian e a mãe dele, Cynthia. Nesse ponto, John tinha deixado Cynthia, e fui a Kenwood como amigo, para dar um oi e ver como eles estavam. As pessoas insinuaram que eu gostava de Cynthia, isso é normal, mas não é o caso. Eu estava pensando em como seria difícil para Jules, como eu o chamava, aquela situação toda. O pai saindo de casa, os pais se divorciando. Começou como uma canção de encorajamento.
Em geral, o que acontece com uma canção é que ela começa num filão – nesse caso, estar preocupado com algo na vida, uma coisa específica, como um divórcio –, mas depois começa a se transformar numa criatura própria. Primeiro, o título era “Hey Jules”, mas mudou rapidamente para “Hey Jude”, pois achei que era um pouco menos específico. Percebi que ninguém ia saber exatamente do que se tratava, então eu poderia muito bem abri-la um pouco. Ironicamente, por um tempo John pensou que era sobre ele, sobre eu dar permissão para ele ficar com Yoko: “You have found her, now go and get her”. Até então eu não conhecia alguém chamado Jude. Mas eu gostava desse nome – em parte, acredito, por conta daquela melancólica canção do Oklahoma!, “Pore Jud Is Daid”.
O que acontece a seguir é que eu começo a adicionar elementos. Quando eu escrevo “You were made to go out and get her”, entra em cena agora outro personagem, uma mulher. Portanto, agora pode ser uma canção sobre um rompimento ou um contratempo romântico. Nesse ponto, a canção deixou de ser sobre Julian. Agora pode ser sobre o relacionamento com essa nova mulher. Acho legal que minhas canções tenham elementos masculinos ou femininos que se universalizam.
E a canção ganhou outro elemento adicional: o refrão. Não era para “Hey Jude” ter essa duração, mas estávamos nos divertindo tanto improvisando no final que se transformou num hino, e a orquestração foi aumentando e aumentando, em parte porque houve tempo para isso.
Aconteceu uma coisa engraçada no estúdio durante a gravação. Achando que todos estavam prontos, eu comecei a canção, mas Ringo tinha escapulido para o banheiro. Então, durante a gravação, eu o senti passando atrás de mim, na ponta dos pés, e ele assumiu a bateria exatamente na parte que ele entrava, sem perder uma só batida. Então, enquanto estamos gravando, estou pensando “O take é este”, e você acaba colocando um pouco mais nele. Estávamos nos divertindo tanto que deixamos escapar um palavrão na metade, quando eu cometi um erro na parte do piano. Você tem que ouvir com atenção para ouvir, mas está ali.
Depois que a mixamos, Mick Jagger ouviu o acetato original da gravação no Vesuvio Club, na Tottenham Court Road. Entreguei uma cópia ao DJ quando cheguei lá e pedi a ele que a tocasse em algum momento da noite para ver como soava. Depois de escutá-la, Mick se aproximou e disse: “Que coisa mais incrível! É como se fossem duas canções!”.
Hey Jude” também foi o primeiro single de nossa nova gravadora Apple, e acredito que se tornou o nosso single de maior sucesso. A canção era muito longa para um single padrão de sete polegadas, então os engenheiros tiveram que fazer uns truques de estúdio com o volume para fazê-la caber num lado, e acabou chegando ao número um nas paradas de quase todos os países. Foi divertido fundar a gravadora. O logotipo da Apple foi inspirado numa pintura de René Magritte que eu tinha comprado, e nas etiquetas dos discos da gravadora colocamos uma maçã verde Granny Smith no lado A e um corte transversal dela no lado B. Algumas pessoas pensaram que a imagem do lado B era um tanto provocante, talvez até pornográfica, mas era só um trocadilho visual com “Apple Corps”.
A partir daí, a canção se tornou um destaque de nossos shows, e o refrão ganhou vida própria. Quando as pessoas me perguntam por que ainda faço turnês, digo que é por causa de momentos de interação como esse. Pode haver plateias de dezenas de milhares de pessoas ou até mesmo centenas de milhares, todas cantando, e isso é um regozijo. A letra é tão simples que qualquer um pode cantar junto!
Assim, “Hey Jude” começou com a minha preocupação com Julian e se transformou num momento de celebração. Também vejo com bons olhos o fato de que as pessoas interpretam as minhas canções a seu modo. Sempre fico feliz quando a letra é um pouco modificada. Quando as pessoas entendem mal uma parte da letra, isso mostra que elas “se apropriaram” da canção, como o pessoal diz. Deixei a canção ir. Agora ela é de vocês. Agora façam com ela o que quiserem. É como se você pudesse carregar a canção em seus próprios ombros.

Paul McCartney, em As Letras: 1956 até o presente

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