Uma entrevistada do programa da BBC,
Inglaterra, na Hora das Mulheres, falou sobre suas
experiências como prisioneira de guerra:
– Quando uma pessoa já experimentou
muitos sofrimentos, sabe apreciar as fraquezas e as boas qualidades
até mesmo dos próprios inimigos. Por que deve ser nosso inimigo
completamente mau, ou a vítima completamente boa? Ambos são
criaturas humanas, com o que é bom e o que é mau. E creio que se
apelarmos para o lado bom das pessoas teremos êxito, na maioria dos
casos.
Sei o que ela quis dizer, mas está
errado. Há uma hora em que se deve esquecer a própria compreensão
humana e tomar um partido, mesmo errado, pela vítima, e um partido,
mesmo errado, contra o inimigo. E tornar-se primário a ponto de
dividir as pessoas em boas e más. A hora da sobrevivência é aquela
em que a crueldade de quem é a vítima é permitida, a crueldade e a
revolta. E não compreender os outros é que é certo.
Clarice Lispector, em Todas as crônicas
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