sábado, 15 de março de 2025

Balada XVII

a Luiz Hilst

O poema se desfaz. Bem sei.
E aos poucos morre.
Se o gênio do poeta conseguisse
a palavra com sabor de eternidade.
Dizer da amiga que se foi
e abria os olhos noturnos sem vontade.
Dizer do amante alguma coisa a mais
além da espera.
Dizer da mãe, ó amadíssima,
tudo o que a boca não diz
e que se perde.

Tão sós estão os homens e a palavra.
Por que não haverá um outro mundo
sem ruído nem boca,
mudo, esplendidamente mudo?

Hilda Hilst, em Baladas

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