segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

[Para Anthony Linick]


22 de abril de 1959

[...] Preciso sair correndo, agora, para pegar o primeiro páreo. Obrigado por atenuar o golpe na minha fraqueza gramatical mencionando que alguns dos seus amigos de faculdade têm problemas para estruturar frases. Acho que alguns escritores sofrem mesmo dessa sina, sobretudo porque no íntimo são rebeldes e as regras gramaticais, como muitas das outras regras de nosso mundo, demandam um arrebanhamento e uma confirmação que o escritor natural abomina por instinto, e, ademais, seu interesse reside no âmbito mais amplo do assunto e do espírito... Hemingway, Sherwood Anderson, Gertrude Stein, Saroyan foram alguns que reformularam as regras, especialmente na pontuação e no fluxo ou na quebra das frases. E, claro, James Joyce foi ainda mais longe. Temos interesse por cor, forma, significado, força... os pigmentos que assinalam a alma. Mas sinto que há uma diferença entre ser um não gramático e ser iletrado, e é aos iletrados e aos despreparados, os tão apressados em publicar com estardalhaço que não vasculharam as eras em busca de um sólido e básico trampolim, que lanço minha censura. E com absoluta certeza a escola da Kenyon Review leva um fio de vantagem sobre nós aqui, embora eles tenham extrapolado tanto que seu fio criativo ficou cego.

Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer

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