22
de abril de 1959
[...]
Preciso sair correndo, agora, para pegar o primeiro páreo. Obrigado
por atenuar o golpe na minha fraqueza gramatical mencionando que
alguns dos seus amigos de faculdade têm problemas para estruturar
frases. Acho que alguns escritores sofrem mesmo dessa sina, sobretudo
porque no íntimo são rebeldes e as regras gramaticais, como muitas
das outras regras de nosso mundo, demandam um arrebanhamento e uma
confirmação que o escritor natural abomina por instinto, e,
ademais, seu interesse reside no âmbito mais amplo do assunto e do
espírito... Hemingway, Sherwood Anderson, Gertrude Stein, Saroyan
foram alguns que reformularam as regras, especialmente na pontuação
e no fluxo ou na quebra das frases. E, claro, James Joyce foi ainda
mais longe. Temos interesse por cor, forma, significado, força...
os pigmentos que assinalam a alma. Mas sinto que há uma diferença
entre ser um não gramático e ser iletrado, e é aos iletrados e aos
despreparados, os tão apressados em publicar com estardalhaço que
não vasculharam as eras em busca de um sólido e básico trampolim,
que lanço minha censura. E com absoluta certeza a escola da Kenyon
Review leva um fio de vantagem sobre nós aqui, embora eles
tenham extrapolado tanto que seu fio criativo ficou cego.
Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer

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