segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O mau vidraceiro


Há tipos naturalmente contemplativos e que não são feitos para agir. Levados, entretanto, por um impulso misterioso e desconhecido, são capazes de agir com uma rapidez da qual eles próprios não se acreditariam capazes.
Um tipo que, temendo receber do porteiro uma má notícia, hesita por uma hora diante da própria porta sem ousar entrar, um tipo que guarda consigo uma carta por quinze dias sem abrir o envelope, um tipo que leva ainda seis meses para tomar uma iniciativa aguardada há anos: todos esses, em algum momento, sentem-se irresistivelmente levados à ação por uma força brusca, como a flecha lançada de um arco. O moralista e o médico, que pretendem tudo saber, não podem explicar de onde irrompe tamanha energia em almas preguiçosas e lânguidas, e como, incapazes de realizar as coisas mais simples e necessárias, elas encontram em certas ocasiões aquele excedente de coragem que lhes permite executar os atos mais absurdos e muitas vezes os mais temerários.
Um dos meus amigos, o sonhador mais inofensivo que já existiu, incendiou uma vez uma floresta apenas para ver, defendia-se ele, se o fogo se alastrava mesmo com a facilidade que geralmente se afirma. Por dez vezes seguidas o experimento falhou, mas na décima primeira tentativa o resultado foi tremendo.
Haverá quem acenda um charuto ao lado de um barril de pólvora apenas para ver, para tentar a sorte ou por curiosidade, exigindo de si mesmo uma prova de ousadia, bancando o espertalhão que se dá ao luxo de alguma ansiedade, de um capricho despropositado, de uma loucura.
Esse é um tipo de energia que surge do tédio e da fantasia; aqueles em que ela se manifesta de forma tão determinada são, em geral, como disse, os indivíduos mais indolentes e sonhadores. Um outro, tímido a ponto de que até o olhar das pessoas o incomoda, daqueles que precisam reunir todas as suas parcas forças para entrar em um café ou teatro, porque os coletores de bilhetes lhe parecem mais majestosos que Minos, Eaco e Radamante – esse por pouco não estrangula o velhinho que lhe passa ao lado, tal é o entusiasmo com que o abraça diante da multidão espantada.
Por quê? Porque... porque não conseguiu resistir à simpatia daquele semblante? Talvez, mas faz mais sentido pensar que nem ele saiba o porquê.
Mais de uma vez fui vítima desses acessos, desses arrebatamentos repentinos, que nos autorizam a pensar que demônios maliciosos se insinuam em nós, obrigando-nos a dar vazão, sem nem mesmo percebermos, aos seus impulsos mais absurdos.
Uma manhã, mal-humorado e triste, cansado da mesmice, levantei-me aparentemente disposto a realizar um grande feito. Um feito tremendo, estrondoso! Foi assim que abri a janela.
(Peço que considerem que o talento mistificador, que em algumas pessoas não resulta de um trabalho ou estratégia, mas da inspiração fortuita, é um elemento-chave, pelo menos quanto à força do desejo, dessa disposição, histérica segundo os médicos, satânica segundo aqueles que pensam um pouco melhor que os médicos, a qual nos impele automaticamente a uma série de ações perigosas e inconvenientes.)
A primeira pessoa que vi na rua foi um vidraceiro, cujo grito estridente e horroroso subiu até mim atravessando a pesada e suja atmosfera parisiense. Parece-me agora impossível dizer por que fui tomado, contra esse homem, de uma raiva tão repentina quanto despótica.
Ei, ei! – gritei a fim de chamá-lo.
Meu quarto ficava no sexto andar, e a escada era bem estreita, foi o que refleti. E não pude deixar de sorrir diante da imagem do homem tendo de desviar, a todo o momento, ao subir, os cantos da sua frágil mercadoria.
Quando ele por fim apareceu, examinei curiosamente todos os vidros e disse:
Mas como! O senhor não tem vidros coloridos? Nenhum vidro rosa, vermelho, azul? Nenhum vidro mágico, que abra a janela do paraíso? Mas que impertinência! O senhor vem passear no bairro dos pobres e não traz consigo nada que faça ver a beleza da vida?
E então empurrei-o com força em direção à escada, onde ele tropeçou resmungando.
Aproximei-me do parapeito, peguei um vasinho de flor e, logo que o homem reapareceu saindo pela porta, deixei cair perpendicularmente a minha máquina de guerra sobre a quina posterior dos seus cavaletes; o choque desequilibrou-o, e o homem terminou de quebrar sob as costas toda aquela sua miserável fortuna ambulante, que produziu o estrondo de um palácio de cristal atingido por um raio.
Exaltado com o meu feito, eu lhe gritava furioso:
A beleza da vida! A beleza da vida!
Essas peças que os nervos nos pregam são muitas vezes perigosas, e podem custar caro. Mas o que importa a danação eterna a quem descobriu no espaço de um segundo a volúpia infinita?

Charles Baudelaire, em O spleen de Paris – Pequenos poemas em prosa

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