sábado, 21 de dezembro de 2024

1553 – Tucapel

Valdívia

Há festa ao redor da árvore de canela.
Os vencidos, vestidos de tangas, assistem às danças dos vencedores, que usam elmo e couraça. Lautaro usa as roupas de Valdívia, o gibão verde coberto de ouro e prata, a fulgurante couraça e o capacete de viseira de ouro, cheio de plumas e coroado de esmeraldas.
Valdívia, nu, se despede do mundo.
Ninguém se enganou. Esta é a terra que há treze anos Valdívia escolheu para morrer, quando saiu de Cuzco seguido por sete espanhóis a cavalo e mil índios a pé. Ninguém se enganou, exceto dona Marina, sua esquecida esposa da Extremadura, que no fim de vinte anos decidiu cruzar o oceano e está navegando, agora, com bagagem digna do cargo de governadora, a poltrona de prata, a cama de veludo azul, os tapetes e toda sua corte de parentes e servos.
Os araucanos abrem a boca de Valdívia e a enchem de terra. Fazem com que ele engula terra, punhado atrás de punhado, incham seu corpo de terra do Chile, enquanto dizem:
Queres ouro? Come ouro. Farta-te de ouro.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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