Valdívia
Há
festa ao redor da árvore de canela.
Os
vencidos, vestidos de tangas, assistem às danças dos vencedores,
que usam elmo e couraça. Lautaro usa as roupas de Valdívia, o gibão
verde coberto de ouro e prata, a fulgurante couraça e o capacete de
viseira de ouro, cheio de plumas e coroado de esmeraldas.
Valdívia,
nu, se despede do mundo.
Ninguém
se enganou. Esta é a terra que há treze anos Valdívia escolheu
para morrer, quando saiu de Cuzco seguido por sete espanhóis a
cavalo e mil índios a pé. Ninguém se enganou, exceto dona Marina,
sua esquecida esposa da Extremadura, que no fim de vinte anos decidiu
cruzar o oceano e está navegando, agora, com bagagem digna do cargo
de governadora, a poltrona de prata, a cama de veludo azul, os
tapetes e toda sua corte de parentes e servos.
Os
araucanos abrem a boca de Valdívia e a enchem de terra. Fazem com
que ele engula terra, punhado atrás de punhado, incham seu corpo de
terra do Chile, enquanto dizem:
– Queres
ouro? Come ouro. Farta-te de ouro.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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