O
alcaide e a bela
Se
Potosí tivesse hospital e ela passasse pela porta, os doentes
ficariam curados.
Mas
esta cidade ou amontoado de casas nascido há menos de seis meses não
tem hospital.
Cresceu
loucamente o acampamento mineiro, que já soma vinte mil almas.
Brotam novos tetos, cada amanhecer, ao impulso dos aventureiros que
de todas as partes acodem, dando cotoveladas e estocadas, em busca de
fortuna fácil. Nenhum homem se arrisca pelas ruelas de terra sem
armar-se de espada e malha de couro, e estão as mulheres condenadas
a viver atrás dos pórticos. Mais perigo correm as menos feias: e
entre elas, a mais bela solteira não tem mais remédio que
esconder-se do mundo. Só sai ao amanhecer, muito escoltada, para ir
à missa: porque ao vê-la qualquer um teria vontade de bebê-la
inteirinha, de um gole ou aos pouquinhos.
O
alcaide-mor da vila, dom Diego de Esquivel, pôs-lhe o olho. Dizem
que por isso anda sorrindo de orelha a orelha, e todo mundo sabe que
ele não tinha tornado a sorrir desde aquela distante vez que tentou
fazê-lo, na infância, e seus músculos ficaram doendo.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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